O grupo no WhatsApp das amigas está fervoroso. O alinhamento de horários e datas, depois que passamos dos 20, se tornou quase uma equação impossível. Enviamos prints de Instagram de cafés superfaturados para escolher onde iremos nos encontrar, e fotos no espelho para entrarmos em um acordo sobre qual será o look combinado (apesar de saber que, no fim, cada uma irá do seu jeito).
Depois, imagens do pinterest são encaminhadas como inspirações de poses e ângulos, ninguém vai desperdiçar roupa, maquiagem e tempo e sair sem uma foto para as redes sociais. É um daqueles momentos raros que se tornaram especiais na era hiper ocupada em que vivemos, no qual quando todas conseguem estar online ao mesmo tempo, vira quase um evento. Envio uma figurinha que criei da cara da minha amiga e acho graça. A parte de cima do grupo aparece “digitando” e espero sorrindo para o celular como uma boba aguardando pela explosão de risadas, mas o que surge na minha tela varre o sorriso do meu rosto em questões de segundos.
“Amigas, meu namorado pode ir junto?”
Não consigo acreditar na solidão da amiga que namora. Na verdade, toda vez que me deparo com essa frase, não consigo evitar meus olhos de rolarem para trás. O que eu realmente acredito é na solidão da amiga solteira — aquela que, um dia, foi a primeira opção de companhia para tudo, mas que agora só é lembrada quando o namorado da amiga vai para o futebol ou quando eles brigam, e ela precisa de alguém para desabafar.
Sair com as amigas é um ato terapêutico, é um escape da realidade, uma oportunidade de recarregar as energias. Um ambiente onde meus fracassos não são punidos, e minhas vitórias são celebradas. É onde posso confessar minhas inseguranças pessoais, profissionais e acadêmicas, e tenho a liberdade para destilar minha frustração emocional — tudo isso sem julgamentos. Mas, quando um homem está presente, tudo muda!
Provavelmente, boa parte das minhas reclamações semanais estão relacionadas a um homem que não me respondeu depois de um match ou a um chefe machista. Então, me desculpe se, depois de uma longa semana cheia de frustrações geradas majoritariamente por homens, eu não queira, no meu momento de desabafo, a presença de um. E verdade seja dita, nem você! Suas reclamações são abreviadas, seus desabafos são abafados e suas críticas são podadas, tudo para não provocar os comentários indesejados do namorado, que você escolheu trazer.
Depois do pedido de autorização sempre vem a frase: “Você nem vai perceber que ele está lá.” Pois saiba, amiga, que eu vou perceber, sim. Aliás, a única maneira de não perceber que tem um homem no meio do nosso grupo de mulheres é se ele não estiver lá! E outro detalhe que muitas vezes parece ser esquecido, eu não sou amiga do seu namorado. Posso tratá-lo com respeito, ser educada, até posso me intitular “colega”, mas amiga sou somente de você. Se um término acontecer, é ao seu lado que vou ficar.
Não consigo entender por que é tão difícil para algumas mulheres abdicar de uma única tarde para passar com suas amigas sem precisar levar seu “chaveiro” ao lado. Tenho certeza de que, se você deixar um potinho de água, comida e a TV ligada no futebol, ele vai ficar muito bem. Ousaria dizer que ele prefere muito mais esse rolê do que acompanhar você. (Brincadeira, rs).
Não há dúvida que as amizades são ofuscadas por relacionamentos amorosos, e quem paga o preço são as pessoas que não estão em um relacionamento. Sempre parece que estamos em desvantagem. Eu sei, porque constantemente sou olhada com pena. Ser uma amiga solteira é competir pela atenção. Não somos prioridade, e constantemente somos lembradas disso. Cinema, praia, restaurante e viagem viraram programas exclusivos para casais. No planejamento de um encontro a conversa é sempre a mesma:
—Nós (casal) vamos levar a bebida.
—Perfeito, nós (outro casal) levamos a carne.
(Silêncio constrangedor e olhar de pena)
—Eu (primeira e única pessoa no singular) levo a sobremesa.
Pedir para que o namorado não vá é sempre um ato de humilhação. Tenho que pedir encarecidamente à minha amiga, que antes me encontrava por vontade própria, tenha a decência e o entendimento de que quero passar um tempo com ela, exclusivamente com ela. Quando não sou respondida com uma revirada de olhos que diz: “Você é solteira, não entende”, sou correspondida com um encontro unilateral, onde minha companhia divide seu tempo comigo e com o namorado, que eu pedi para não vir, mas que ela trouxe através de eternas mensagens de celular — aquele que ela pega a cada cinco segundos para responder, ouvir áudios e atualizar sobre uma conversa da qual ela não está tendo comigo.
—Amiga, desculpa, é que fulano está na casa do ciclano e você acredita que blablablablablablablabla... Enfim, o que você estava falando mesmo?
—Que fui promovida no trabalho!
Recentemente, depois de tantos desencontros, decidi parar de convidar minhas amigas que namoram e comecei a esperar ser convidada. Como era de se esperar, meu celular nunca mais tocou nos últimos seis meses. Optei por fazer paz com essa guerra. Cuido de mim, faço meus rituais e aprendi a curtir minha própria companhia. Às vezes não consigo evitar o pensamento de que, talvez, eu esteja destinada a ser sozinha. Eu sei que bem lá no fundo, escondido embaixo à raiva e a tristeza se encontra a frustração de nunca ser para ninguém motivo de priorização.
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É impressionante como, assim que o casal briga ou termina, as amigas aparecem querendo desabafar, chorar as pitangas… mas eu sei que esse interesse em estar juntas é temporário. A vida de solteira me ensinou que cada relação tem seu tempo. Sou uma pessoa que gosta de priorizar quem amo, mas vejo que nem sempre é assim com as minhas poucas amigas que estão sempre namorando ou com alguém. Parece que o mundo delas gira em torno do homem, e nada pode ser feito sem ele. Só quem é mulher entende a importância desses momentos de irmandade, daquelas coisas que só outras mulheres sabem, mas parece que, quando entra um cara na equação, tudo muda. Isso me frustra, mas hoje em dia tento seguir o que você falou: meu maior compromisso tem sido comigo mesma. Aprender a ser sozinha se tornou essencial para a minha sobrevivência.
Eu também sempre reviro o olho quando começa o papo da "solidão da mulher que namora". A bonita afastou todas as amigas e depois vai fazer video pro tiktok cozinhando bolo pq ela não foi convidada pro rolezinho no shopping que o (ex?) grupo de amigas tá todo presente. Engraçado que o namorado com certeza não deixou de ir jogar videogame com os amigos no sábado ou de ir ver o jogo do flamengo no bar na quarta. Por isso os homens não tem esse papo de "solidão do homem comprometido". Pq eles continuam a se ver e a se apoiar, com ou sem a namorada perto. E a menina só vai na padaria se o macho estiver lá a tira colo.